Acesso ao diagnóstico laboratorial e à vigilância em locais remotos: problemas e soluções

Organizado por ESCMID Study Group for Public Health Microbiology (ESGPHM) e ESCMID Study Group for Veterinary Microbiology (ESGVM)

Durante surtos de doenças infecciosas, o acesso rápido a diagnósticos e ferramentas de vigilância é crucial para investigadores e epidemiologistas. No entanto, muitas vezes esses recursos estão concentrados em laboratórios bem equipados, distantes dos locais afetados. 

Para contornar essa dificuldade, surgiram as Unidades Laboratoriais Autônomas, capazes de rápida implementação em locais remotos. Equipadas com tecnologia portátil e testes robustos, essas unidades aproximam o diagnóstico do local do surto. Tal avanço reforça a vigilância epidemiológica e contribui para conter surtos de doenças emergentes em áreas de difícil acesso. Nesta sessão, destacaram-se três exemplos práticos de soluções para controle e vigilância de doenças infecciosas em ambientes remotos.

Inicialmente, o Dr. Thomas Kesteman, do Vietnã, explicou que para combater eficazmente a resistência bacteriana em países de baixa e média renda é necessário aumentar o acesso à microbiologia clínica. Esse acesso é:¹

• Útil e inegável;
• Necessário e possível;
• Mais viável do que o esperado;
• Dependente de fatores locais e globais.

Os serviços laboratoriais distritais desempenham um papel fundamental na proteção da saúde pública, atuando na vigilância, prevenção, controle, diagnóstico e gestão de doenças de grande relevância. No entanto, há muitos desafios para a implementação desses laboratórios:¹

• Pouca infraestrutura laboratorial, incluindo fornecimento de energia, controle de umidade e pó, e métodos caros;
• Dificuldade para que os suprimentos cheguem ao local, especialmente os de cadeia fria;
• Disponibilidade limitada de consumíveis e reagentes;
• Capacidade e treinamento limitados da equipe;
• Problemas de comunicação e falta de conscientização;
• Garantia de qualidade questionável.

Em um marco histórico, em julho de 2019, a organização Médicos Sem Fronteiras apresentou a solução revolucionária para este problema: o Mini-Lab.² É um laboratório de bacteriologia clínica transportável, independente e autossuficiente, projetado para operação por técnicos inexperientes e adaptado para ambientes com recursos limitados e, inclusive, tropicais. Frascos para hemocultura, meios de subcultura, microplacas para identificação e teste de susceptibilidade a antibióticos e outros testes são compactos, prontos para uso e acessíveis. Esses testes foram selecionados por serem fáceis de ler, interpretar e por serem capazes de sustentar o crescimento de bactérias patogênicas comuns.² De acordo com A Dra. Alessandra Natale, do Reino Unido, o Mini-Lab não é um laboratório automatizado de alta tecnologia, porém torna o acesso ao diagnóstico clínico laboratorial mais acessível e sustentável com menor custo.  

Em um relato de sua experiência em Burkina Faso, país do continente africano, o professor Abdoul-Salam Ouedraogo apresentou o Laboratório de Patógenos Emergentes e Reemergentes (Laboratoire des Pathogènes Emergents et Réémergents, LaPathER). Esse laboratório é especializado no estudo de agentes patogênicos que surgem ou ressurgem, representando desafios significativos para a saúde pública. Localizado na Escola de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Nazi Boni, em Bobo-Dioulasso, o LaPathER desempenha um papel crucial na pesquisa, vigilância e compreensão desses patógenos.³

O sequenciamento do genoma em tempo real para vigilância de surtos também pode ser realizado em um laboratório portátil, o European Mobile Laboratory (EMLab). De acordo com a Dra. Sophie Duraffour, da Alemanha, esses laboratórios de campo de última geração, além de cientistas e técnicos treinados, podem ser implantados em locais em que há epidemias e surtos de doenças infecciosas, a fim de realizar diagnósticos e análises laboratoriais clínicas no local. As unidades laboratoriais também podem fornecer exames clínicos, hemograma e gasometria para apoio ao manejo do paciente.⁴ Ao final de março de 2014, o consórcio EMLab, respondendo ao pedido da Organização Mundial da Saúde (OMS), enviou a primeira unidade laboratorial da Europa para um surto na Guiné, África Ocidental. Esta unidade laboratorial testou milhares de amostras de pacientes para o vírus Ebola e apoiou as equipes de epidemiologia de campo da OMS, fornecendo sequenciamento genético rápido das amostras positivas.⁵ 

Referências
1. Ombelet S, Ronat JB, Walsh T, Yansouni CP, Cox J, Vlieghe E, et al; Bacteriology in Low Resource Settings working group. Clinical bacteriology in low-resource settings: today's solutions. Lancet Infect Dis. 2018;18(8):e248-e258. 
2. Natale A, Ronat JB, Mazoyer A, Rochard A, Boillot B, Hubert J, et al; Mini-Lab Scientific Committee. The Mini-Lab: accessible clinical bacteriology for low-resource settings. Lancet Microbe. 2020;1(2):e56-e58. 
3. Laboratoire des Pathogènes Emergents et Réémergents – LaPathER. Découvrez le LaPathER. Disponível em: https://lapather.org/ Acesso em 28 abr. 2024.
4. European Mobile Laboratory Project. The EMLab consortium. Disponível em: https://www.emlab.eu/ Acesso em 28 abr. 2024.
5. European Mobile Laboratory Project. The first EMLab Unit to West Africa terminates diagnostic activities in Guinea. Disponível em: https://www.emlab.eu/news-events/news-detail/the-first-emlab-unit-to-west-africa-terminates-diagnostic-activities-in-guinea.html Acesso em 28 abr. 2024.

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