A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é a terceira causa de morte no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, responsável por 6% das mortes mundiais, um total de 3.23 milhões de fatalidades em 2019. ^1,2  Quase 90% dessas mortes aconteceram em pessoas com menos de 70 anos de idade, de classes sociais média e baixa.¹ Em países de maior poder aquisitivo, o tabagismo é responsável por 70% dos casos de DPOC.¹

Metade da população fumante tem um a probabilidade de desenvolver DPOC durante a sua vida.³  No Brasil, de acordo com o DATASUS, de janeiro a abril de 2023, 2.589 pessoas morreram por DPOC.⁴  O alerta da importância da cessação do tabagismo em pacientes com doenças pulmonares já existe há quase duas décadas, quando se percebeu a proporção que o cigarro tem na exacerbação de quadros relacionados às enfermidades respiratórias. Naquela época, especialistas já sugeriam, entre outros, que:⁵

      a. Médicos deveriam proativamente contribuir com métodos de cessação do tabagismo aos seus pacientes pneumopatas;
      b. Tratamentos para a cessação do tabagismo deveriam ser incluídos no manejo das condições respiratórias;
      c. Tratamentos deveriam incluir uso de medicamentos e apoio comportamental;
      d. Pneumologistas deveriam estar capacitados a tratar seus pacientes para a cessação do tabagismo.

Apesar do conhecimento abrangente sobre a relação entre DPOC e o cigarro, artigo recente na revista The Lancet minimizou o papel do tabagismo nesse quadro crônico, uma doença potencialmente incapacitante, na qual há perda progressiva da função pulmonar, segundo apontou Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) em carta encaminhada à publicação.³  A entidade disse nessa comunicação que o artigo publicado pela The Lancet falhou em não considerar questões já pontuadas pela literatura médica, como os custos com serviços médicos para pacientes com DPOC que continuam fumando, o subdiagnóstico da DPOC relacionada ao tabagismo na atenção primária e a potencialização do risco de DPOC por uso associado de cigarro eletrônico.³ 

Os custos com consultas médicas atribuíveis ao tratamento do tabagismo após o diagnóstico de DPOC somam 34% do total de gastos com essa condição; 35% dos custos foram relacionados ao absenteísmo indireto e 37%, às perdas de anos de vida ajustados pela qualidade de vida ao longo dos anos.  Evidências científicas apontam também para o grande subdiagnóstico de DPOC, de acordo com estudo canadense que demonstrou que em pessoas com histórico de consumo de pelo menos pelo menos 1 maço de cigarro por dia, por 20 anos, apenas um terço tinham recebido o diagnóstico de DPOC antes das espirometrias que podem indicar o diagnóstico.  O avanço do cigarro eletrônico em todo o mundo também tem um impacto relevante. Usuários de cigarros eletrônicos têm risco três vezes maior de relatar um diagnóstico de DPOC do que os não fazem uso desse dispositivo, entre pessoas que não fumam cigarro tradicional.⁸

Além da cessação do tabagismo, as recomendações da OMS reforçam a importância da vacinação em pessoas com DPOC, contra a gripe (anualmente), contra doença pneumocócica e Covid-19 (vacina e booster).¹ As vacinas também são recomendadas pelas diretrizes conhecidas pelo acrônimo GOLD (Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease), que são revisadas anualmente por um grupo de especialistas internacionais.⁹  O GOLD  oferece concentra as evidências que balizam recomendações de avaliação, diagnóstico e tratamento de pacientes com DPOC. Entre as diretrizes atualizadas este ano estão também o uso de vacinas pneumocócicas para pacientes idosos e jovens com comorbidade significativa.

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Referências
1.  WORLD HEALTH ORGANIZATION. The Top 10 Causes of Death. Disponível em: <https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/the-top-10-causes-of-death>. Acesso em 30 setembro 2023.
2. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Chronic obstructive pulmonary disease (COPD). Disponível em: <https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/chronic-obstructive-pulmonary-disease-(copd)>. Acesso em 23 agosto 2023.
3. LANIADO-LABORÍN, R. Smoking and Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD). Parallel Epidemics of the 21st Century. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 6, n. 1, p. 209–224, 9 jan. 2009.
4. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). Fumar é o principal fator de risco da DPOC, afirma SBPT ao The Lancet. Disponível em: <https://sbpt.org.br/portal/fumo-dpoc-lancet/>. Acesso em 23 agosto 2023.
5. TONNESEN, P. et al. Smoking cessation in patients with respiratory diseases: a high priority, integral component of therapy. European Respiratory Journal, v. 29, n. 2, p. 390–417, 27 set. 2006. 
6. ZAFARI, Z. et al. Projecting Long-Term Health and Economic Burden of COPD in the United States. Chest, out. 2020. 
7. HILL, K. et al. Prevalence and underdiagnosis of chronic obstructive pulmonary disease among patients at risk in primary care. Canadian Medical Association Journal, v. 182, n. 7, p. 673–678, 6 abr. 2010. 
8. PEREZ, M. F. et al. Adult E-Cigarettes Use Associated with a Self-Reported Diagnosis of COPD. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 16, n. 20, p. 3938, 16 out. 2019. 
9. GLOBAL STRATEGY FOR THE DIAGNOSIS, MANAGEMENT, AND PREVENTION OF CHRONIC OBSTRUCTIVE PULMONARY DISEASE (2023 REPORT). [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://goldcopd.org/wp-content/uploads/2023/03/GOLD-2023-ver-1.3-17Feb2023_WMV.pdf>. Acesso em 30 setembro 2023.
 

PP-UNP-BRA-3179